sexta-feira, 4 de maio de 2012

Austeridade

Em um recente artigo "Deixem o cinto para lá", o prêmio nobel Paul Krugman comentou, a pedido de alguns leitores, a diferença entre governo e família no que diz respeito a austeridade.



A comparação que ele faz no texto é no mínimo leviana, fugindo do centro da questão.

Quando falamos em austeridade a comparação entre governo e família é perfeita. No entanto, a partir do momento em que defende um governo com forte presença na economia e com gastos crescentes, Krugman não consegue sustentar suas ideias. Por isto, ele utiliza comparações estranhas, como de que os cortes de gastos de um governo seria o mesmo que uma família saísse do emprego para cortar despesas. Estranho não? Quem faria isso? Só se for o nobel em economia. Podemos perguntar para qualquer família endividada (e que tenha algum juízo) sobre o que ela faria para sair desta situação. Ela responderia que não só iria cortar gastos supérfluos, como também procuraria outras formas de renda, trabalharia em mais de um turno ou tentaria ir para uma atividade que lhe pagasse mais. Nunca largaria o emprego.

Se o governo ao cortar gastos gera algum tipo de desemprego, é porque estes postos de trabalho não eram produtivos, ou seja, não geravam riqueza. Por exemplo, será que se um senador brasileiro, que tem direito a contratar 11 pessoas para auxiliá-lo, não pudesse contratar ninguém seria uma grande perda para economia? Será que o governo precisa comprar carros de 150 mil reais? Será que deixar de pagar 600 mil reais para desembargadores da justiça seria uma grande perda? Será que o Brasil precisa de 24 ministérios? De exemplos assim o Brasil e o mundo estão cheios. O problema é que se gasta muito mal especialmente quando se tem muito dinheiro. Quando se tem pouco, gasta-se no essencial. Assim que deveria ser um governo, gastar única e exclusivamente no essencial. Se alguém quer gastar mal o dinheiro, que gaste o seu, não o dos outros. Gastar dinheiro dos outros é fácil e é exatamente isso que o nobel defende, que se gaste o dinheiro dos outros.

Krugman também ignora uma coisa que é ensinada na primeira aula de um curso de economia: os recursos são escassos e finitos. Aliás, isto uma criança de alguns poucos anos já consegue perceber, mas parece que o nobel não. Ao defender irresponsávelmente que se "deixe o cinto pra lá", ele está dizendo nas entrelinhas que, se você é um poupador, não é esperto. Se acredita que seu dinheiro vai valer alguma coisa no futuro, você está enganado. Se é responsável, você não está fazendo a coisa certa. É exatamente isto que ele defende, que os problemas todos do mundo serão resolvidos com impressão maciça de dinheiro, mais comumente conhecido como inflação. É isto que ele deveria dizer para ser sincero com as pessoas que leem sua coluna.

Como os recursos são finitos, tudo na vida exige um "trade-off", ou seja, para se largar o cinto você terá inflação. A família, por sua vez, se resolver "deixar o cinto pra lá" e imprimir dinheiro vai presa. A família não pode fazer isto, ela sempre terá que escolher entre a austeridade e a prisão. O governo por outro lado pode escolher entre austeridade e a inflação. Não existe mágica no mundo que possa mudar isto. Krugman deveria explicar na coluna dele que ao se optar por inflação, o mais penalizado é justamente o mais pobre e a classe média. Os ricos são os menos prejudicados. É isso que o nobel defende, que aqueles que poupam sejam duramente penalizados assim como aqueles que ganham menos, que vão ver a cada dia seu dinheiro valer cada vez menos, que vão presenciar uma escalada de preços na economia. É uma opção, mas ele deveria deixar bem claro o que se está escolhendo e não distorcer ou omitir os fatos.

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